sábado, 12 de julho de 2014

Autocomiseração

As pessoas em geral me encaram como alguém fraca, que sofre intensamente de autocomiseração, ou seja, alguém com muita dó de si mesma.

A questão é que as pessoas não fazem ideia das   dificuldades que já passei, o que já enfrentei e o que tive que fazer para conseguir estar aqui. Para conseguir ao menos respirar a todo e cada amanhecer.

Já comecei vários dos meus dias com o olhar miserável, com o sentimento desesperador de perda com trilhões de dúvidas, e somente uma certeza, a de estar só. Estar só num mundo aonde ao menos 8 milhões das pessoas, (1% da população mundial), poderia e oferece o maior amor do mundo. Aonde o maior Ser do universo me oferece seu amor e cuidado, mas que eu não consigo, não consigo, me aproximar e merecer este amor.

Passar por épocas que você simplesmente não sabe se conseguirá sobreviver a mais uma noite, e nestas épocas, esta sensação vem todo santo dia.

As pessoas no geral não se preocupam com quem você é, elas estão muitos mais interessadas no que você faz ou fala, porque desta forma elas podem te criticar e julgar sem dor de consciência. Elas podem projetar tudo o que elas receiam e repudiam em si mesmas em você, para conseguir ter - ao menos - uma falsa sensação de paz.

Eu sou intensa, eu choro, eu falo, eu questiono. Eu odeio, eu amo, eu xingo, e eu defendo.Tenho muita dificuldade de esconder minhas emoções, e por consequência não refreio muito minhas palavras e minhas ações (o que é sem dúvida um grande problema). Sou excêntrica, falante e sofro agressões psicológicas por conta de todo este conjunto de atribuições que eu possuo.

Se isso é sinal de fraqueza ou de autocomiseração eu realmente não sei. E não sei mesmo, porque para ser sincera a primeira pessoa que me julga - num grau altamente pesado - como fraca e com autocomiseração, sou eu mesma! E sinto vergonha de ser assim. Sinto vergonha de ser fraca e de me questionar o porquê as coisas pra mim tem que ser mais difícil, mais sem controle, mais sem perspectiva. Devaneio sobre isso e começo a sentir uma raiva incontida do mundo, da minha vida... Mas uma coisa eu sei, sentir pena de si mesmo é muito feio! Muito feio.

Então me obrigo - mesmo com dor, medo e inseguranças - a entrar na minha floresta escura e cheia de mistérios. E a atravesso, todos os dias.

Atravesso sem saber o que poderei encontrar no meio do caminho, sem saber com que animal selvagem poderei me deparar e se conseguirei me defender dele mais uma vez. Sem saber se conseguirei chegar em algum ponto conhecido ou se me perderei em meios aos seus caminhos tortuosos e parecidos e totalmente diferentes a cada dia.

A questão é se você caro leitor - que talvez tenha um grau aceitável de normalidade, talvez tenha família, amigos e relacionamentos "estáveis" com as pessoas em geral, que talvez não tem a mínima ideia do que lutar pela sanidade - é capaz de sobreviver ou ao menos percorrer um trajeto completo durante um dia dentro da minha floresta?

O que você acha? Conseguiria lidar com o leão enfurecido? Conseguiria lidar com as cascavéis destilando litros de veneno? Conseguiria lidar com o urso faminto? Conseguiria lidar com as armadilhas altamente engenhosas e atraentes?

Sinceramente, você acha que sobreviveria?