Caio Fernando Loureiro de Abreu escreveu certa vez que a dor de perder alguém em vida é pior do que a dor da morte, porque é o nunca mais de alguém que se poderia ter, já que está vivo e por perto.
Um dos grandes malefícios da minha doença, é que tenho como tendência natural - como vício absoluto - me legitimar e procurar segurança nos outros, nos amigos. E isso faz com que eu sofra muito e faz as pessoas que eu amo sofrer também.
O ser humano que precisa do outro pra se legitimar está fadado ao fracasso e ao sofrimento, porque as circunstanciadas mudam, os gostos mudam, as prioridades mudam e por consequência as afinidades também.
Pessoas com borderline, como eu, colocam suas forças e esperança em outras pessoas com a crença de que nada irá mudar... E aquele seu parceiro, guerreiro de todas as horas sempre estará naquela condição de parceiro e guerreiro e fará - por questão de algum código moral interno - tudo pra preservar este pacto tão sagrado da amizade. Mas não, isso não vai acontecer, e não irá acontecer, porque isso não existe, isso não é amizade. Amizade não é isso.
Os únicos amigos, parceiros e companheiros de todas as horas que permaneceram "eternizados" foram os Friends, mas na vida real as coisas não ocorrem desta forma, simplesmente porque isso não existe.
Não que eu esteja dizendo aqui que eu não exista amizades verdadeiras, existem sim, e eu sei que tenho amigos leais e bons que me ajudam muito de várias formas, muitas vezes - 99,99% das vezes - sem entender o que realmente há de errado e como podem me ajudar, mas mesmo assim se esforçam ao máximo em me amparar.
Não tenho palavras pra descrever o quão grata sou por isso, eu sou mesmo, mas mesmo sabendo que minha doença que me faz ter conceitos deturpados e expectativas exacerbadas dos relacionamentos em geral - especialmente - nos relacionamentos com meus amigos, eu não posso deixar de sentir a dor da perda em vida.
A dor de perder aquela sensação de parceria indestrutível de adolescência com aquela amiga que você "cresceu" junto.
A dor de perder a preferência daquela amiga que além de amiga era a grande parceira de serviço que te concedia forças - além do normal - pra ir trabalhar em meio aos caos, e mesmo assim, tornar aquilo tudo muito divertido.
A dor de sentir que aquele amigo que você acha super bacana e em que
você confia suas confidências, não te confidencia tantas coisas assim.
A dor de perder o posto da "Confidente Oficial" daquele amigo que você
ama de paixão e te faz tão bem, mas que agora está apaixonado e se
confidencia especialmente agora com um outro tipo de amiga... A amiga
namorada.
Todas estas situações são normais e fazem parte do desenvolvimento da nossa vida, mas eu sofro muito com esta normalidade, eu sinto muita dor... A dor de perder aquela sensação de SER e TER "A amiga (o)".
Meu ser não tem a capacidade de aceitar esse desenvolvimento natural, aceitar que os amigos mudam, tem outros planos, outras prioridades e outras afinidades, e não é por isso que eles deixam de gostar de você ou que sua amizade se torna menos importante, simplesmente não é mais igual, porque é a ordem da natureza.
Meu consciente sabe e repete vez após vez que meus amigos não estão me deixando de lado, que eles não estão me excluindo, que eles me amam e me veem como antes... Mas minhas emoções simplesmente se recusam firmemente a acreditar e me levam a devaneios, pensamentos, noias e conspirações tão absurdas como afirmar que James Dean não seria o homem ideal pra eu passar o resto da minha vida, rs.
Mesmo depois de horas e horas de luta árdua entre meu ser consciente e minhas emoções, no fim sempre estou exausta e com os mesmos sentimentos do Caio... "a dor de perder alguém em vida é pior do que a dor da morte, porque é
o nunca mais de alguém que se poderia ter, já que está vivo e por
perto."