quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Wolf(Wo)man

Eu sempre achei muito interessante a história do Lobisomem (Wolfman), e pra mim sempre teve um significado maior, do que um simples conto de um homem mordido por um lobo em lua cheia.

Mas eu nunca pensei muito sobre isso, até umas semanas atrás, quando assistir o remake feito em 2010 do clássico The Wolfman de 1941.

A visão profunda e clara que o filme traz sobre a vida problemática de Lawrence Talbot, e todos seus traumas e conflitos de infância que giram em torno da morte de sua mãe - que ele presenciou ensanguentada aos braços de um monstro, um lobo -  e seu relacionamento problemático com seu pai, Sir John Talbot, fizeram com que minhas suspeitas iniciais fossem confirmadas.

Na lenda original que tem raiz na mitologia grega, Licaão, o rei de Arcádia, serviu a carne de um Árcade (Um membro de Arcádia),  a Zeus. Zeus descobriu, e como forma de castigo, transformou Licaão em Lobo. Porém, a transformação não era somente uma questão física - homem se transforma simplesmente em um animal - o Lobo no caso.

Era uma metamorfose completa, pois mesmo na forma humana, Licaão passaria a ter comportamentos estranhos, como mudança de comportamento misteriosa, ser mais atento as outras pessoas, sempre desconfiar de tudo e ter muito medo de ser descoberto, pela humanidade, como uma aberração. Porém, era muito protetor em sua forma humana.

Isso soa muito familiar pra pessoas com problemas como Personalidade Borderline, Distúrbio Bipolar, TDAH's e tantos outros que sofrem nas mãos destas malditas doenças psíquicas. Esse é nosso "castigo" que foi-nos imposto por nossa condição imperfeita. Essa é nossa maldição e temos que viver com ela até o fim de nossos dias, pois não há cura.

Assim como o Lobo, somos temidos e vistos aos olhos alheios e medrosos como monstros, que devem ser exterminados ou ao menos trancafiados em algo ou em algum lugar aonde eles - como seres humanos sem maldição - possam estar protegidos.

Nosso Wolf, nosso Lobo, se manifesta todos os dias através de nossos conflitos internos e externos e nossa luta para atravessar os dias e não podemos controlá-lo, o máximo que conseguimos - e devemos - é respeitá-lo, aprender a viver com ele e fazer planos e estratégias de contenção para não causarmos tantas mortes e destruição em noites de lua cheia.

Será que conseguiremos chegar até o fim sem o alívio da bala de prata no coração? Espero que sim.